segunda-feira, 8 de abril de 2013

Retratos de São João del-Rei em 1818, segundo John Luccock - I: quadro pitoresco e interessante!


O viajante inglês John Luccock visitou São João del-Rei em 1818 e fez minuciosa descrição da Vila de São João del-Rei nos seus mais diferentes aspectos: humanos, geográficos, econômicos, sociais, políticos, religiosos e muitos outros.

Por se tratar de um documento muito importante para a memória de nossa cidade - e também pouco conhecido e divulgado - o transcreveremos neste almanaque eletrônico. Para a leitura se tornar mais agradável, permitindo imaginar e aprofundar no que Luccock escreveu, o documento será publicado em partes, divididas aleatoriamente porém obedecendo sua sequência original e a grafia da época.

Embarquemos no tempo!...

"Cerca de 200 pés abaixo da igreja do Bomfim, estende-se a Vila de São João d'El-Rey. O primeiro dos epítetos pelo qual se a designa indica ser ela um agrupamento de segunda ordem, somente inferior a uma cidade e munida de todas as repartições próprias de tal categoria. Do local em que estacamos, muitas ruas são nitidamente visíveis, o curso de um ribeirão amplo e raso coleando através da vila, as duas pontes que o transpõem, os edifícios públicos todos e muitas casas particulares, entre elas destacava-se muito a de meu amigo Aureliano, distinguindo-se, como aliás várias outras, pelas janelas envidraçadas e outros traços de superioridade.

A mistura de numerosas igrejas com as casas, de telhas vermelhas e ainda não enegrecidas pelo fumo, de telhados não deformados pela intromissão de chaminés, de paredes feitas limpas e alvas pela aplicação de argamassa e caiação, do calçamento cor de cinza das ruas, das areias amarelentas do rio e do verde dos jardins, formava um quadro pitoresco e interessante. De um modo geral, a cidade é compacta, sua forma aproximadamente circular e sua situação e porte muito semelhantes aos de Halifax, no Yorkshire.

O cenário vizinho é grandemente montanhoso e apresenta estranha mistura de morros arredondados e rochedos fragmentados, de aridez e verdura, de pobreza do solo e riqueza da vegetação, de jardins em meio a desertos e de conforto em plena desolação.

Após contemplar com espanto e prazer uma tão estranha paisagem, pensei comigo: Será essa a cidade da qual por dez anos tanto ouvir falar? Onde será que se efetuam os seu tantos e conhecidos negócios? Onde se consumirão tantos gêneros que ela recebe? Onde estarão as habitações dos seus comerciantes, seus armazéns e suas lojas?  Onde as residências de seus fregueses e auxiliares? Onde as lavouras que lhes dão os produtos e os fornecem de um excesso exportável?

Tendo por algum tempo gozado deste panorama do local e tendo-me vestido e dispensado os criados, montei e segui morro abaixo, indo até a casa de meu amigo, onde fui recebido cordial e cortesmente. Mostrou-se evidentemente surpreendido e pareceu algo desapontado com o fato de aparecer eu tão cedo, pois estava prestes a partir, juntamente com alguns amigos, para Estiva, onde pensavam que eu almoçaria esse dia. Sinceramente satisfeito por se ter evitado tal cerimônia, embora agradecido pela intenção, prevaleci-me de outros sinais de bondade para para pôr-me dentro em pouco completamente a gosto naquela casa"

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