terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Reis de ontem, hoje e amanhã, em folia e festa, cantaram e dançaram os 300 anos da Vila de São João del-Rei

Quando o assunto é cultura, São João del-Rei é plural, múltipla e diversa de expressões e manifestações. Sendo assim, não poderia se imaginar outra coisa: foram muito variadas as atividades culturais que celebraram os 300 anos da elevação do Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar à Vila de São João del-Rei.

Cortejos, missas barrocas, retretas, recitais, concertos, shows, exposições, lançamento de livros e cartazes, palestras, especiais nas TVs local e regional, suplementos temáticos na imprensa local, homenagens, torneios esportivos, ações socioculturais de educação patrimonial - tudo foi realizado, mais concentradamente no último mês de 2013, para comemorar - com significado, pompa e dignidade - uma efeméride tão importante para a história são-joanense.

Um dos últimos eventos realizados com este objetivo foi o Encontro de Folias de Reis e Pastorinhas do Campo das Vertentes. que aconteceu na noite do sábado, 28 de dezembro, em um coreto montado em frente à Casa de Bárbara Eliodora. Tradicionalmente organizado pela ONG Atitude Cultural como programação natalina, em 2013 o encontro teve um brilho especial. Nele, se apresentaram, saudando o acontecimento, oito grupos locais de Folia de Reis, entre eles um exclusivamente feminino. De matriz portuguesa e notória influência estética e sonora agropastoril, estes grupos representam uma face importante da cultura popular de raiz de São João del-Rei, edificada em uma tradição distante, evidenciada pela idade da maioria dos "capitães e comandantes".

Aos grupos são-joanenses se juntaram dois outros, vindos espontaneamente de Juiz de Fora com a linguagem visual, coreográfica, acrobática e sonora que espelha o tempo presente e a cultura de massa predominante no colar socioeconômico que envolve as médias e grandes cidades. Cores fortes, brilhos, movimentos frenéticos,. Música religiosa popular, na batida funk, misturada à percussão folclórica. Rapazes pobres, comprometidos, imersos e mobilizados pela causa da nova forma de evangelização por meio da cultura urbana. Tudo sem perder de vista o inapagável lume das folias antigas e sob a batuta de líderes comunitários mais maduros e respeitados, inclusive em tempo vivido.

Múltipla, plural e diversa - tanto que construiu uma temporária territorialidade popular em um de seus territórios mais barrocos (o Largo São Francisco) - São João del-Rei mostrou como no universo que a cidade é há lugar para tudo e para todos. Para o antigo e para o contemporâneo. Para o sagrado e para o profano. Para o erudito e para o que brota da alma do povo. Desde que haja respeito e harmonia...

Veja, neste link http://www.youtube.com/watch?v=VbntqMfPuCE#t=30 um flash de uma das neo-Folia de Reis que participaram do encontro.

............................................................................
Foto: http://saojoaodelreitransparente.com.br/files/images/Folia_de_Reis_e_Pastorinhas.jpg

sábado, 28 de dezembro de 2013

Coração são-joanense: no silêncio das palavras, Tiradentes saúda 300 anos da Vila de São João del-Rei


Joaquim José da Silva Xavier, o alferes Tiradentes, nasceu na Fazenda do Pombal. Era novembro de 1746 e, naquela época, a fazenda ficava em terras que pertenciam à Vila de São João del-Rei. Que saudação o "animoso alferes" faria sua terra natal, pelos 300 anos da elevação do Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar à Vila de São João del-Rei? A imaginação permite imaginar...

"Terra minha, adorada, de onde há 267 anos vi, pela primeira vez, o sol cruzar o céu de oeste a leste. De onde também vi, na mesma ocasião e pela primeira vez, no luzeiro celeste, clave de lua prateada numa pauta de estrelas brilhantes, sustenidas, solfejadas de luz.

Hoje, com 300 anos, São João del-Rei é minha pátria neste mundo. Por ela, em memória eu semeio e cultivo os sonhos de grandeza, dignidade, abundância, humanismo, harmonia e fraternidade.

Meu coração são-joanense bate como o sino dos Passos, anunciando a aurora que se deseja para todas as almas desta terra. Festivo pelos três séculos da elevação do Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar à Vila de São João del-Rei, parece o sino do Rosário repicando alegre o Tencão do Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Aliás, tal qual um sineiro, é com as batidas, pancadas, dobres  e repiques de meu coração que eu saúdo os 300 anos da quarta vila instituída em Minas Gerais - minha idolatrada São João del-Rei!"


Joaquim José da Silva Xavier
São-joanense. Alferes Tiradentes


...............................................................................
Ilustração: Batismo de Cristo - tapete de areia colorida, obra do artista Fernando Pedersini

Coração são-joanense: imaginário suspiro de Bárbara Eliodora pelos 300 anos da Vila de São João del-Rei


Dos nomes que povoam a história de São João del-Rei, o de Bárbara Eliodora é dos mais emblemáticos. Numa licença poética, este blog imaginou uma mensagem que o coração são-joanense da poetisa inconfidente possivelmente endereçaria à cidade de São João del-Rei.

"Das campinas estreladas do sem-fim, sorrio uma brisa pelos 300 anos da Vila de São João del-Rei. Então, exala de minha volta perfumes de jasmins e manacás dos antigos jardins do Largo da Cruz.

Percebo que minha alma suspira halos de incenso como o que costuma cobrir com um véu de fumaça o andor do Senhor dos Passos quando a Orquestra Ribeiro Bastos executa o Popule Meus, tanto que amo minha terra.


Três séculos se renovaram. Agora são outros tempos. Não uso mais diademas de ouro, alianças de prata, anéis de ametistas, broches de diamantes, camafeus de esmeraldas nem brincos de rubi. 


Da eternidade à memória, percorro todos os tempos, estou em toda parte. Mão me miro mais em grandes espelhos de cristal. Me vejo no brilho dos olhos das crianças, dos jovens, dos maduros e dos mais vividos da tricentenária São João del-Rei.
"

Bárbara Eliodora Guilhermina da Silveira
São-joanense. Poetisa inconfidente

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Coração são-joanense: de São João del-Rei, tenho saudade até dos meus medos




                       "São João del-Rei é paixão, emoção e amor.

                       É saudade da minha infância pelas ruas da cidade e dos meus medos.
                       Eu não conseguia atravessar a ponte do Grupo Escolar João dos Santos
                       e tinha muito - mas muito medo - quando ao passar pela Rua do Barro,
                       em sentido ao centro da cidade, via as copas da palmeiras do Largo de 
                       São Francisco. Ai que pavor... Hoje fico rindo só de lembrar!

                       Me sinto abençoada por ser são-joanense"



Rosalina Meireles            
São-joanense            

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Coração são-joanense: tricentenária e companheira cidade.


"São João del-Rei é meu berço natal. Nós, seus diletos filhos, aprendemos a amá-la e respeitá-la desde pequeninos. E ela, modesta e paciente, nos acompanhava quando, com nossos passos sonhadores, percorríamos suas vias históricas, sob o terno olhar dos anjos e santos da portada de seus templos  barrocos.Entre lições de vida, íamos também aprendendo a linguagem dos sinos: seus singelos símbolos sonoros.

É certo que ela jamais será aquela cidade onde parecia que todos se conheciam como nos tempos do inocente e provinciano "footing" da Avenida. São João muito progrediu. Não obstante o grande avanço urbano e demográfico, ela continua acolhedora, amiga e irradiar cultura.

Que São João del-Rei continue a projetar-se no cenário nacional e internacional através de seu rico patrimônio material e imaterial. E, acima de tudo, que ela continue assim: autêntica, mantendo sempre viva a sua tricentenária espiritualidade, sem jamais perder esse seu jeito todo especial de ser."

Hélio Conceição Silva
São-joanense. Professor.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

São João del-Rei 300 anos. Semana Santa merece ser Patrimônio Imaterial Brasileiro.



Cultura, tradição, religiosidade, pompa, fé, beleza, originalidade. As festas religiosas de São João del-Rei têm tudo isto, em tamanha profusão, que conferem à cidade uma posição única no cenário da cultura religiosa católica barroca - sem exagero - em todo o mundo. Procissões, novenas, rasouras, ladainhas, Te Deuns, tríduos, ofícios, vésperas, adorações - são raros os dias do ano civil em que não se realizam cerimônias litúrgicas tradicionais nas igrejas do centro histórico de São João del-Rei. Há dias, e não são poucos, em que ocorrem mais e uma celebração e em mais de uma igreja.

No Domingo de Passos, por exemplo, são duas rasouras, duas procissões que se unem na Procissão do Encontro e dois grandes sermões. Na Sexta-feira Santa são ofício pela manhã, celebrações das Sete Palavras, da Adoração da Cruz e cânticos diversos à tarde e, depois, Descendimento da Cruz e Procissão do Enterro. Ao todo, neste dia, costumam somar 11 horas de fé e ritual, com dois intervalos curtos.

As cerimonias da Festa de Passos e Semana Santa duram mais de 40 dias de atividades litúrgicas contínuas, que incluem Vias Sacras internas e externas, Encomendações de Almas, Procissões de Depósito, rasouras, Procissões, Ofícios e outras cerimônias tradicionais que, em todo o mundo, só foram conservadas ininterruptamente em São João del-Rei. Todas elas têm forte componente artístico-cultural local e muitas, inclusive, são obras de compositores locais, criadas nos séculos XVIII e XIX especialmente para as cerimônias da Matriz do Pilar. Elas são constituídas por um complexo e sofisticado sistema linguístico e ritual que inclui discurso e repertório voltados para todos os sentidos.

Os toques dos sinos de São João del-Rei juntaram-se aos de outras cidades mineiras e foram considerados Patrimônio Imaterial Brasileiro. O mesmo pode ser feito com as tradições religiosas, em princípio, por razões estratégico-operacionais, a Tradição da Quaresma, Festa de Passos e Semana Santa. Basta que a comunidade deseje e se mobilize para isto, informando-se sobre os procedimentos que são necessários para encaminhar ao Ministério da Cultura os documentos necessários para tal reconhecimento.

O que São João del-Rei e sua cultural ganham com isto? Muito!

Reconhecimento, visibilidade, respeito, auto-estima, consideração, destaque, projeção e, inclusive, a possibilidade de se obter apoios diversos para realizações e divulgações. Mas, principalmente, mais um instrumento legal e compromissos culturais nacionais e até mesmo internacionais, que muito podem colaborar para a continuidade, o mais viva, genuína e fiel possível de nossas ricas tradições religiosas. As solenes tradições de nossa terra!

Nos últimos dias do mês em que se comemora os 300 anos da elevação do Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar a Vila de São João del-Rei, quase véspera do Natal de 2013, o Blog São João del-Rei 300 Anos deixa aqui, como presente, esta sugestão.Os são-joanenses, que construíram e há três séculos vêm mantendo nossas tradições são competentes suficientemente para viabilizar sua inclusão no livro dos Bens Imateriais Brasileiros. E São João del-Rei merece!

..............................................................................
Foto: Marcinho Lima

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

180 anos de Legalidade nos 300 anos da Vila de São João del-Rei

Único chafariz de cantaria remanescente de tempos passados em São João del-Rei, o Chafariz da Legalidade em 2013 completou 180 anos. É um belo monumento oitocentista, atualmente situado em um largo pequenino, espontaneamente bucólico e sem tratamento paisagístico que o valorize e projete, entre construções modernas do centro urbano da cidade. Juntamente com o Grupo Escolar Maria Teresa e com a Igreja de São Gonçalo Garcia, forma um conjunto arquitetônico relativamente harmônico.

Em 2013, durante visita a São João del-Rei, quando divulgou o Programa de Aceleração do Crescimento das Cidades Históricas, a presidente Dilma anunciou recursos para São João del-Rei, dos quais algum valor seria destinado para a requalificação da área do Chafariz da Legalidade. Havia expectativa que esta ação tivesse sido realizada como parte das comemorações dos 300 anos da Vila de São João del-Rei, mas a julgar por uma visita ao local, percebe-se que a obra sequer começou.

A recuperação, restauração e revitalização do Chafariz da Legalidade como atividade comemorativa do tricentenário da Vila de São João del-Rei e dos 180 anos do monumento foram sugeridas algumas vezes no Almanaque Eletrônico Tencões e terentenas, desde a criação deste canal de divulgação da cultura de São João del-Rei, em janeiro de 2011. O primeiro post, inclusive, apresentava sugestão de se criar, no local, uma área de convivência urbana e, até, um orquidário.

Se a requalificação da área do Chafariz da Legalidade é uma aspiração são-joanense e se o Governo Federal já destinou recursos para isso, o que se espera é que o cumprimento do prometido não seja condicionado ao calendário eleitoral.

Para ler o primeiro post publicado no Almanaque Eletrônico Tencões e terentenas sobre o Chafariz da Legalidade, clique neste link http://diretodesaojoaodelrei.blogspot.com.br/2011/02/legalidade-nos-300-anos-de-sao-joao-del.html

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Arte, luzes e letras para homenagear os 300 anos da Vila de São João del-Rei

Muitos eventos culturais aconteceram e continuam acontecendo durante todo este mês de dezembro para homenagear os 300 anos da elevação do Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar à categoria Vila, com o nome de São João del-Rei, em 8 de dezembro de 1713.

Um deles, que você pode visitar de segunda a sexta-feira, das 10h às 18h, até o dia 6 de janeiro, é a exposição São João del-Rei: Arte, Luzes e Letras, em cartaz na Biblioteca Municipal Batista Caetano de Almeida (Rua da Prata / Largo de São Francisco - fundos da casa de Bárbara Eliodora).

A mostra reúne obras dos fotógrafos Marcinho Lima e Artur Moreira e textos de vários colaboradores - fotógrafos e escritores inspirados no dia a dia da cidade e nas emoções que São João del-Rei lhes desperta. Também integra a exposição cartões feitos artesanalmente pela artista plástica Zulei Bassi, utilizando matéria prima natural colhida em São João del-Rei.

Dizem que uma imagem vale mais do que mil palavras. Se isto é verdade, as fotos da exposição e os cartões contam em detalhes toda a riqueza visual, sonora, olfativa, tátil e gustativa, material, imaterial, imaginária, tradicional, vanguardista, sagrada e profana de São João del-Rei ao longo dos últimos 300 anos!

Visite e comprove...

sábado, 14 de dezembro de 2013

São João del-Rei 300 anos dá voltas no tempo e chega a 1923


Você imagina como era o funeral de um "anjinho" pobre em São João del-Rei nas primeiras décadas do século XX? Pois bem, um recibo lavrado no dia 6 de agosto de 1923 pela Empresa Funerária Paiva, instalada à Rua Nova, número 2, em nome do senhor João Batista do Sacramento, pelo funeral de seu filho Luiz, de três anos, nos dá algumas indicações.

O infante defunto era vestido com uma túnica simples, de cetim, tendo à cabeça um diadema prateado e nas mãos, um globo. A exemplo de quem dorme, tinha a cabeça repousada em um pequeno travesseiro e flores pequenas e claras contornando por dentro o caixão de "4ª classe", assemelhando-se a um Menino Jesus dentro de um oratório simples e pobre. O rosto da criança, na maior parte do tempo, ficava coberto por um lenço, que era levantado quando algum parente ou vizinho desejava fitá-lo.

As despesas incluíam também registro em cartório, com firma reconhecida e selo e pagamentos ao sineiro e coveiro, visto que por ser para uma criança menor de 7 anos, filha de um "irmão" das Almas, tinha direito a uma cova simples no cemitério daquela irmandade.

O recibo tem estampado com destaque, como um cabeçalho, o nome Alberto Bastos e anuncia que a Funerária Paiva, além de produtos e serviços relativos a sepultamento, também comercializava

                "Grande e variado sortimento de velas de cera pura, incenso 
                  e muitos outros artigos deste ramo de negócios."

Uma observação interessante é que o recibo informa ter a funerária "Telephone 38". A posse deste equipamento de comunicação, raro no início do século XX, faz crer que tratava-se de um estabelecimento próspero e moderno. Se na época a população de São João del-Rei tivesse acesso doméstico ao "telephone", certamente os são-joanenses, pioneiramente, poderiam fazer seus pedidos amargos por meio do invento de Graham Bell e receber os tristes produtos sem precisar sair de seu lar

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Folias de Reis homenageiam 300 anos da Vila de São João del-Rei


São João del-Rei está em um momento muito feliz. As folias de reis que o digam. Feliz não apenas pelo calor e entusiasmo com que está comemorando os 300 anos da  elevação do Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar do Rio das Mortes à categoria de Vila, com o nome de São João del-Rei, numa homenagem ao faustoso soberano português D. João V.

São João del-Rei está em um momento muito feliz porque está voltando seu olhar para si própria. Não que negue e desvalorize o mundo que existe do outro lado da Serra do Lenheiro, mas sim porque está garimpando suas próprias riquezas, se apropriando de seus tesouros culturais, reconhecendo suas origens e reforçando-as como bases de sua identidade e de sua cultura. É de posse desta história, desta memória e deste patrimônio que, a partir de então, São João del-Rei vai se apresentar para o mundo.

E receber o mundo na intimidade dos quintais da alma são-joanense, onde se cultiva e colhe música barroca, tradições religiosas, cultura popular, sabedoria, humanidade, conhecimento, respeito, folclore e erudição. Onde se cultiva e colhe a própria vida, aqui semeada - ora com zelo e delicadeza, ora com absoluta selvageria e brutalidade - nos idos 1700.

São João del-Rei surpreende. Evolui e surpreende ainda mais. Holística, a cidade tem espaço democrático para todos - todos os conceitos, todos os modos de pensar, acreditar e agir, todos os modos de se expressar. Nos jardins de São João del-Rei floresce legitimidade e é ela que perfuma a brisa da diversidade plena que exala neste Vale do Lenheiro.

Um bom exemplo disto é o trabalho desenvolvido pelo Memorial Dom Lucas Moreira Neves, que nesta segunda semana de dezembro está promovendo, toda noite, de hoje até sexta-feira,  em frente à sua sede, na Rua Direita, apresentações de dez grupos de folias diversas: embaixadas santas, moçambiques, folias de reis, folias de São Sebastião, folias do Divino, folia feminina e algumas outras, em sua maioria dos bairros de São João del-Rei mas também de duas cidades vizinhas.

Por sua alma telúrica e popular, as folias ainda não ocupam o lugar que merecem no panteão sagrado da cultura de São João del-Rei, mais identificada pelas tradições barrocas, clássicas e eruditas. Mas a cada evento se tornam mais visíveis, tão conhecidas e reconhecidas que em breve as folias, congados, catupés e moçambiques e outras expressões da cultura popular figurarão entre os mais importantes elementos constituidores e de expressão do patrimônio cultural da tricentenária São João del-Rei.



Foto: Ulisses Passarelli (cortesia)

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Lembrando a Guerra dos Emboabas nos 300 anos de criação da Vila de São João del-Rei



O povo de São João del-Rei dá a vida pela terra de cujo pó os são-joanenses foram feitos, mas a bem da verdade pouco sabe sobre os primórdios do Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar e sobre a história dos primeiros e bravos protagonistas da epopeia que naquela época foi a vida à sombra da Serra do Lenheiro.

Lembrando o nome de um deles, chegamos ao Capitão de Cavalos João Antunes Maciel, que se estabeleceu no vale do Rio das Mortes logo depois da descoberta do ouro e em 1709 se distinguiu na Guerra dos Emboabas, pela coragem e bravura com que defendeu a região atacada pelos paulistas. Dois anos depois fez parte da tropa que seguiu como auxílio de Minas ao Rio de Janeiro no combate à invasão francesa.

Por tudo isso, em 10 de dezembro de 1713, Antunes Maciel foi designado pelo Governador da Capitania de São Paulo e Minas de Ouro, Dom Braz Baltasar da Silveira, Tenente Coronel do Regimento instalado na Comarca do Rio das Mortes.

Morando na Vila de São João del-Rei,  em 1717 lançou imposto do quinto do ouro sobre 18 escravos  e, em 1718, entrou para a Irmandade do Santíssímo Sacramento. Sua mãe, Joana Garcia, possivelmente também naquela época morava aqui, pois possuía 6 escravos nesta vila.

Nascido em São Paulo, em 24/10/1674, João Antunes Maciel morreu em 1726, aos 52 anos, quando comandava uma tropa que transportava 4 arrobas e 700 oitavas de ouro das Minas de Cuiabá para São Paulo. Arrecadada como imposto, esta riqueza pertencia ao Quinto Real.

Além de registro nos documentos antigos e em alguns livros de história, João Antunes Maciel é um nome desconhecido e sem importância para a população de São João del-Rei. Este lapso para com a história bem poderia ser corrigido, dedicando-lhe um marco e dando seu nome a um espaço público importante na cidade. Nem que fosse ao pequeno largo e chafariz que ficam nas imediações do Fortim dos Emboabas (foto) situado na subida do Morro das Mercês - caminho setecentista dos mineradores e faiscadores que há trezentos aos catavam ouro e sonho na Serra do Lenheiro.
.........................................................................
Fonte: CINTRA, Sebastião de Oliveira. Efemérides de São João del-Rei. Volume II, 2a edição revista e aumentada. Imprensa Oficial de Minas Gerais, Belo Horizonte, 1982.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

300 anos de São João del-Rei resgatam arca imaginária de lendas esquecidas em porões de tempo e memória


Três séculos de existência deram a São João del-Rei uma rica História e preciosas estórias. Sem qualquer registro nos livros oficiais mas incontestáveis porque fazem parte das lembranças e das histórias de vida dos são-joanenses mais vividos, as estórias falam muito do tricentenário imaginário popular de São João del-Rei.

Aguçam a imaginação, transmitem valores, incentivam a criatividade, disseminam valores morais, apresentam códigos éticos - premiam, julgam, condenam e castigos atos, atitudes e até pensamento de cometê-los.

São João del-Rei tem, nos porões de sua memória, uma arca imaginária de lendas desconhecidas ou esquecidas. Poucas foram registradas em texto, por atitude voluntária e visionária do intelectual são-joanense Lincoln de Sousa, na primeira metade do século 20. Antes dele, é possível que a educadora Alexina Pinto também tenha feito alguma coisa neste sentido, pois utilizava lendas, brincadeiras e trava-línguas como instrumentos didático-pedagógicos. Alexina Pinto, proclamam alguns, foi a primeira folclorista brasileira.

Várias lendas reunidas por Lincoln de Souza ganham vida nos sábados à noite, encenadas no centro histórico no espetáculo Lendas São-joanenses. Este trabalho é tão genuíno e original que foi reconhecido, em nível estadual, para concorrer por Minas Gerais ao Prêmio Rodrigo de Mello Franco, do Ministério da Cultura.

Mas muitas estórias fantásticas hoje sobrevivem apenas na lembrança popular daqueles que já vão longe na idade. Como a do sino assassino, que matou um sineiro e ficou preso em uma sala da Prefeitura, durante anos. A do diabo que gemia sob a ponte de pedra da Rua Santo Antônio, na altura do Buraquinho, "atentando" e ameaçando na madrugada os homens que voltavam da Adoração do Santíssimo Sacramento. A da moça que via o diabo no entardecer de toda segunda-feira, na subida da Rua do Ouro, e gritava até o sino tocar Angelus e ela se esquecer. Ou, ainda, a da família inteira que perdeu o juízo e ficou doida porque, em época de absoluta miséria na zona rural, teve que usar a roupa dos santos da capela para cobrir as vergonhas.

O tesouro das lendas são-joanenses dorme em porões de memória, empoeirado pelo tempo que semeia saudades. Em seu sonho, aguarda dormente a chegada do bandeirante moderno que o descobrirá, resgatará e revelará à luz do sol que clareia os dias e da lua que ilumina as noites serenas de São João del-Rei.

domingo, 8 de dezembro de 2013

Majestosa procissão barroca celebra a glória dos 300 anos da Vila de São João del-Rei


O anoitecer do dia 8 de dezembro, em São João del-Rei, é sempre um momento em que esta data festiva se torna ainda mais sublime. Antes que o sol se ponha atrás da Serra do Lenheiro, Nossa Senhora da Conceição sai da igreja de São Francisco e, após passar sob as palmeiras do jardim, em forma de lira, percorre em procissão o centro histórico da cidade.

Atravessa pontes de pedra, cruza largos, percorre ruas estreitas, atravessa encruzilhadas, corta becos e, de tempos em tempos, para diante de alguma igreja e, virando para o frontispício, fica imóvel por alguns instantes, como reverentemente a se mirar em um espelho. É que lá dentro, em altar dourado, atrás das portas fechadas, outra Nossa Senhora reina. Os sinos sempre dobram com vigor e alegria, a banda toca marchas entusiasmadas e as pessoas, felizes, dão corpo e vida ao cortejo.

Em 8 de dezembro de 2013, quando se comemorou os 300 anos da elevação do Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar á Vila de São João del-Rei, não foi diferente. O sentimento reinante, o mesmo de outros anos, é o seguinte:

                                   Quando o céu desce ao chão
                                    não há nada a fazer.
                                    Só deixar no peito bater
                                    o enternecido coração.


Coração são-joanense: São João del-Rei. 300 anos de sonhos, desafios e responsabilidades



"Hoje completando seus 300 anos de elevação à Vila, ao longo de sua história São João del-Rei gerou, acolheu e acalentou gerações de homens e mulheres que por toda a vida plantaram o bem e o belo. Com o passar do tempo, vem colhendo preciosos e promissores frutos, que hão de continuar a gerar, acolher e acalentar gerações futuras.

A sustentabilidade de uma cultura como a nossa sobrevive, justamente, porque cidadãos se dedicam e se entregam, por amor, à cidade onde nasceram ou escolheram para viver. "A cidade que sonhamos é a cidade que podemos construir", proclamam, em suas cartelas e fitas falantes, os anjos barrocos de nossas igrejas.

Temos o desafio e a responsabilidade de fazer parte de uma geração que - sólida como a Ponte da Cadeia - une o antigo e o novo. À nossa geração cabe, por amor a São João del-Rei, desvendar tesouros e abrir caminhos para outros que ainda hão de se revelar. É deste jeito que construímos nossa identidade."


Alzira Agostini Haddad              
São-joanense. Atitude Cultural              

Coração são-joanense: 300 anos de grandeza, orgulho e identidade


Privilégio

               "É um privilégio ser são-joanense!
               Ser da terra dos inconfidentes
               conterrâneo de um presidente
               e de outros filhos ilustres
               cujos feitos cruzaram montanhas
               fazendo com que seu nome
                mantenha tamanha fama.

                                É um orgulho ser são-joanense!

                                Ser da terra onde os sinos falam
                                e de ruas que História exalam.
                                De outras cidades históricas
                                seu ecletismo a diferencia
                                pois aqui o barroco e o moderno
                                confrontam-se com mais harmonia.

                                                  É um prazer ser são-joanense!

                                                  Sentir que de um extremo ao outro
                                                  de irregular topografia
                                                  um povo simples e ordeiro
                                                  cultiva sincera amizade
                                                  e talvez nem Freud explique
                                                  tão complexa simplicidade.

                                        É um privilégio ser são-joanense!

                                        Ouvir a "Ribeiro Bastos" durante a Semana Santa
                                        Assistir ao "Descendimento" e seguir em procissão
                                        entre fieis  devotos que têm digno representante
                                        pois um de seus filhos ilustres
                                        - para orgulho dos conterrâneos -
                                        é Cardeal no Vaticano."



Hélio da Conceição Silva                       
são-joanense, in Pelas Vias da                      
Tricentenária São João del-Rei                      
1ª edição . TGB Gráfica, 2011                       

Coração são-joanense: ato de contrição por São João del-Rei



Herança e lembrança de São João del-Rei


                             "Quando penso em São João del-Rei
                             em meu peito bate um sino.
                             Sonoro e feliz coração de menino,
                             criança distante que guardo e sei.

                             Quando penso em São Jão del-Rei
                             em minhas veias corre um trem.
                             Maria Fumaça fugindo pr'além.
                             Vagões alegres, fornalha em brasa, torpor intenso,
                             chaminé dourada, esbravejando nuvens de incenso.

                             Se me esqueço de São João del-Rei
                             minha alma esfria e escurece.
                             A lua não vem, a noite desce             
                             sereno frio, nada me aquece.
                          
                             A poesia foge, o verso quebra.
                             Meu dia nasce cinza e triste
                             sem iluminada clave de sol."

                                                                                                  Antonio Emilio da Costa.
                                                                                                  São-joanense, jornalista.


"Arde em meu peito um incêndio, que queima sem esperança ... corre em meu sangue um veneno - veneno que tem teu nome..."



Coração são-joanense . Emoção & sentimento: "Meu lugar no mundo..."



Declaração de Amor a São João del-Rei

"Meu lugar no mundo é um pedaço de vale, cercado por exuberante serra em formato de concha ou talvez de onda petrificada.

Corta-lhe um córrego sossegado que às vezes, na primavera e no verão, se agiganta e no inverno se esconde numa manta branca.


Torres barrocas pontilham esse vale, assim como a fuligem da Maria Fumaça, o cheiro do rosmaninho em abril e os ipês em agosto.


Atravesso pontes de pedra e envergo diante de andores, sapateio algo parecido com samba em suas ladeiras e depois vigio passinhos em noites de sexta-feira.


Da minha janela eu ouço o sino repicar ou dobrar e tento adivinhar teus segredos. Ouço o sino badalar e me oriento nas tuas horas.


Meu amor por este torrão de mundo é materno, paterno, fraterno, eterno, é enorme, é tricentenário!"


KK Freitas, são-joanense, publicitária, jornalista,
escreve o blog "Ambição Literária

Coração são-joanense: espigas de ouro e milho. Telúrica São João del-Rei

"Minha caminhada na seara cultural de São João del-Rei perpassa obrigatoriamente pelas tradições folclóricas. Desde a infância, por razões que suponho de natureza espiritual, cada detalhe humilde da vida rural me impressionou profundamente: a produção de um queijo, "sá dona" amassando numa gamela a massa do biscoito de polvilho, "sô Zé" prevendo o tempo ao olhar a cor e a forma de nuvens ou ao ouvir o canto de um pássaro. Carro de boi gemendo no espigão, cheio de  milho da colheita.

Bem moleque, uma folia nos visitou. Estava na casa de meus avós e este foi o marco definitivo, o adubo que faltava para a semente germinar. Minha alma se impregnou para sempre daquela melodia e guiou-me até hoje, como a Estrela guiou os Magos do Oriente. Era o grupo do finado Zé Rita.

O apito do trem, o toque dos sinos, as formas das peças de estanho, em cuja fábrica meu pai trabalhava e me ensinou a gostar, os cubus, tarecos e sequilhos, os cartuchos de amêndoa, o cheiro de rosmaninho da Semana Santa. "Para a cera do Santo Sepulcro!" - Eis um grito que matraqueia em meu coração. Os contos de assombração de vô Aluísio ou os causos de "sô" Emídio do Bengo... Encantadores!   

A Fábrica de Biscoitos Mazzonni: aquele macarrão delicioso. Balas inigualáveis, que a gente comprava no peso, bolinhas de cor, grudadas umas nas outras, embaladas no papel de pão para o freguês. Nunca mais vi nada igual. Os pirulitos do Rato, vendendo-os de bicicleta. Tinham a forma de galos, presos a palitos, coloridos, confeitados com açúcar fino. Seu gosto perdido no tempo perdura na memória.

No Largo Tamandaré, saudosa época do sr. Djalma Assis, vínhamos no frio de junho ver o encontro de quadrilhas. Pelo Natal, o Presépio da Muxinga, com aqueles bichos e bonecos que nos enfeitiçavam. Não se consegue deixar de visitá-lo, mesmo sabendo o que se verá! É mágico...

Cada tradição foi como um tijolo numa construção que nunca acaba, edificando uma identidade multifacetada. São João del-Rei é uma palpitação. É viva, pulsante.

São João del-Rei é assim. Tem 300 anos. 300 identidades.


Ulisses Passarelli                    
São-joanense, folclorista                    

     

Coração são-joanense: São João del-Rei, para sempre dentro de mim




                    "Terra adorada, 
                       não sei o que seria de mim sem você.
                       Daqui levei esperanças e conheci a saudade...
                       que me fez pensar em voltar.
                       O bom Deus me concedeu a graça de aqui estar.
                       Pena que a vida passa em um segundo
                       e meus sonhos são como vapor que sobem ao céu.
                       Esperança?
                       viver e te sentir sempre
                       dentro de mim
                       São João del-Rei"

                                                                                                         Marcinho Lima
                                                                                                         São-joanense
                                                                                                         Fotógrafo e professor

Na torre da Matriz do Pilar,  o pai, Roberto Lima, e outros sineiros executam o bicentenário repique "A Senhora é Morta!", um dos mais belos e sofisticados toques de sino de São João del-Rei, ouvido unicamente no dia 14 de agosto. 




Coração são-joanense: São João del-Rei. Uma cidade chamada esperança


. Minha São João del-Rei .

                                        "Tenho sempre na lembrança
                                          Dos meus sonhos de criança
                                          Um lugar que só eu sei.
                                          Paraíso onde nasci
                                          Paragem em que vivi
                                          Eu sou de São João del-Rei.

                                          Terra-mãe os filhos adora
                                          Casa de Bárbara Eliodora
                                          E de tantos trovadores.
                                          Terra da música boa
                                          Terra em que o sino soa
                                          Terra de muitos amores.

                                          São João del-Rei eu te amo
                                          Conheço teu rico passado
                                          E almejo um futuro melhor.
                                          Do Tejuco ao Matozinhos
                                          Do Bonfim ao Senhor dos Montes
                                          Da Colônia ao Guarda-Mor.
            
                                          O coreto lá na praça
                                          Procissão festiva passa
                                          Chafariz e monumentos.
                                          Segue o Córrego do Lenheiro
                                          E o trem de ferro lindeiro
                                          Que trilha em meu pensamento.

                                         No entardecer do dia
                                         Na hora da Ave-Maria
                                         O sol se esvai no Lenheiro.
                                         Neste centro de tradições
                                         São muitas comemorações
                                         A tomar o dia inteiro.                                          

                                          São João del-Rei eu te amo
                                          Conheço teu rico passado
                                          E almejo um futuro melhor.
                                          Do Tejuco ao Matozinhos
                                          Do Bonfim ao Senhor dos Montes
                                          Da Colônia ao Guarda-Mor.

                                                                                            Vivianne de Melo
                                                                                            São-joanense, compositora

Coração são-joanense: 300 anos de São João del-Rei. De São João del-Rei Momo!



Não é de hoje que a alegria mora em São João del-Rei, onde é vizinha parede-meia da brincadeira, da jovialidade,  da boa farra, da festa, da irreverência,  da folia, da Lira do Delírio,  de todas as coisas boas e de todo mundo que não dispensa o lado bom da vida. 


Por isso, ela também homenageia os 300 anos da Vila de São João del-Rei, mostrando em primeira mão ao respeitável público deste blog sua "indumentária" para o Carnaval 2014 - a camiseta do Bloco Carnavalesco Arrasta o Resto!


Viva São João del-Rei Momo!


O Bloco Carnavalesco Arrasta o Resto parabenizando São João del-Rei pelos 300 anos. E levará a homenagem para o Carnaval de 2014, desfilando com esta camiseta. Viva 300 anos de alegria!

José Geraldo da Silva              
São-joanense, folião              





sábado, 7 de dezembro de 2013

Coração são-joanense: poema de glória escrito, terra querida e formosa...


Minha relação com São João del-Rei é abissal. Aqui nasci e passe grande parte de minha vida. Desde os primeiros anos morei na Rua de Santo Antônio e permaneci até o final da década de setenta. Rua tortuosa, charmosa, as casas com seus quintais e seus quintais com suas histórias. A capela do padroeiro, as barraquinhas.Aprendi muito cedo a decifrar cada símbolo produzido e exalado pela cidade.Exalado porque, como mágica, entranhavam pelos ares, pelos poros e chegavam até nossas almas.

Dos jardins floridos, meu cheiro predileto é o do manacá. Lembra casa da avó com mesa posta. O que eu mais gostava de ouvir da varanda de minha velha casa era os dobres dos sinos de São Francisco.  Tinha ali algo encantador. O som chegava com tamanha nitidez que dava para ouvir o barulho do badalo ferindo a bacia.

Tinha também o som da corneta do antigo Regimento Tiradentes. O despertar com a rotineira alvorada e, no final da noite, o toque do silêncio. Num compasso ritmado éramos despertados, como também convidados ao repouso noturno. Naquela época a cidade tinha menos carros e a propagação do som era fantástica.

Depois, as duas pontes de pedra, bicentenárias. Não consigo imaginar São João del-Rei sem elas. Duas guardiãs que traduzem muito bem nosso espírito de mineiridade. Estabelecem, em silêncio, a ligação entre o velho e o novo, entre o tempo chuvoso e o tempo da seca. Entre o tempo profano dos carnavais e o tempo sagrado das procissões. O Córrego do Lenheiro, que preguiçosamente corta a cidade, se enfurece arrastando tudo o que vê pela frente no tempo das águas. Com isso, conseguimos contemplar o sentido sólido das pedras.

Um dos primeiros núcleos urbanos tombados pelo IPHAN, São João del-Rei trás dentro de si muita história forjada durante 300 anos de ocupação, porém não perde a perspectiva do renovar, do desafiar e do transgredir. A cidade olha para o passado, ora contemplativa, reflexiva, extasiada e embaraçada.

O pelourinho de pedra toma outro significado. A Ponte da Cadeia não mais conduz ao calabouço e o bairro do Segredo não consegue mais guardar o que foi dito nas horas mortas da noite.

Os sinos ainda são arautos de uma religiosidade nascida de várias matrizes culturais. As torres não são mais espaços proibidos. Os sonhos são vividos e experimentados por todos. A maria fumaça ainda consegue serpentear nas margens do Rio das Mortes, sempre apinhada de gente com sede de histórias.

Não poderia deixar de lado a magia dos largos vários - Rosário, São Francisco, Carmo, Largo da Cruz, das Mercês, cenário de uma das representações mais barrocas das Minas coloniais: o descendimento da cruz.

Não foi fácil chegar aos 300 anos lúcida e com vigor. Muita água passou por debaixo das pontes, muito ouro foi bateado, muitas lágrimas derramadas. Mas, hoje, dia de Nossa Senhora da Conceição, e quando se comemora três séculos da elevação de São João del-Rei à categoria de Vila, temos muito a festejar.

Não consigo me desgrudar deste meu velho torrão natal. "Há nas rochas de tuas montanhas um poema de glórias escrito. Salve terra querida e formosa. Salve terra de São João del-Rei!"


Jairo Braga Machado
São-joanense, historiador

No ícone abaixo, o Hino de São João, do qual o verso em azul faz parte.


Coração são-joanense: um dia em São João del-Rei marcou para sempre meu destino



Andei por ti, São João del-Rei

Isso foi nos anos noventa, já longe, no século passado
Ainda menino, por um dia só, em excursão bate e volta
Mas a cada passo encontrei uma história para sonhar
Em toda esquina inspiração que virou Turismo

Dos tempos de El Rey, igrejas, ruelas, monumentos,
gente, arte, praças, palmeiras e chafarizes
Lembro do beco que dá na escada da Igreja
Paralelepípedo, bandeiras hasteadas, salve o Divino!
Artesanato na esquina, cultura viva

Era dia, não vi a lua, mas a maria fumaça
Hora do almoço e o boteco no canto da rua
No meio do velho, a percepção para o novo
No Córrego do Lenheiro, um divisor de águas

Por andar por ti, tomei gosto pela História
E hoje turismólogo venho lhe saudar, daqui de Pitangui

Parabéns SJDR 300 anos!!!


Léo MoratoTurismólogo                 
Do blog Daqui de Pitangui                  

            

Coração são-joanense: São João del-Rei, cidade generosa



               São João del Rei das igrejas, das pontes e casarões, 
               bendita e louvada sejas, pela voz voz dos corações. 
              Ó São João de todas artes, da música em especial, 
              generosa tu repartes teu prestígio, prestígio sem igual. 


Abgar Campos Tirado           

Cibervisita 360 graus a São João del-Rei. A cidade ao alcance de seus olhos


Andar pelas ruas de São João del-Rei é viver sentimentos singulares. Um mundo sensorial de cores, luzes, aromas, sabores, sons, imagens e sensações. A cada hora do dia, o brilho faz mover a paisagem, a sombra acentua realces, a cidade muda sua face.

O mesmo acontece com a sonoridade. De manhã cedo, é a banda do Batalhão. Depois, de tempos em tempos, em horas certas, o apito agonizante das fábricas, o grito da maria fumaça e, nas mais inesperadas horas, o toque dos sinos, os foguetes que espocam, notas musicais de instrumentos que se afinam em ensaio. À noite, música nas igrejas, nas praças, nos palcos e nos bares.

Quer dar uma volta 360 graus em São João del-Rei sem sair de onde está? Então clique neste link http://www.minastur360.com.br/sao_joao_del_rei.html e boa viagem no tempo e na cultura!

Coração são-joanense. São João del-Rei: terra de lembranças e alegrias


Parabéns, São João del-Rei


Não nasci em São João del-Rei, mas gosto como se tivesse nascido. Desde criança, ia muito lá, principalmente na Semana Santa. Agora, levo meus filhos para conhecerem. Com meu avô, até carreguei tocha na procissão do Enterro e  fiquei muito impressionado com a Verônica, que cantava e mostrava o rosto de Cristo num pano branco. 

Meu tio-avô tocava violino na orquestra. Quis tocar também e até comprei um violino, mas como sou canhoto, inverti a posição das cordas, para segurar o arco com a mão esquerda. Não deu certo...

Gosto de lembrar de São João, dos meus avós, dos vizinhos da Rua Padre Faustino, das bicicletas com campainha, daqueles tempos que não voltam mais, mas que eu não esqueço. É por isso que eu mando parabéns a São João del-Rei pelos 300 anos e digo muito obrigado pelas alegrias que me deu.



Carlos Alberto C. Santos      
Empresário - Brasília / DF